Marvel investe no que costuma acertar e garante a satisfação dos fãs
Geralmente é fácil comentar algo que
você é fã, aqui porém o desafio torna-se mais complexo, visto que sempre
priorizamos um comentário imparcial acerca do que está sendo avaliado. Neste
caso confesso que o desafio acaba não sendo tão difícil, a Marvel ajudou
trazendo um dos mais bem feitos filmes dentro do Marvel Cinematic Universe
(MCU) e nos direcionando para a fase 3 do estúdio. É fato que o filme não é
perfeito (afinal, algum é?), mas o saldo positivo com certeza é o que prevalece
desta experiência.
A HQ de Guerra Civil é certamente uma das sagas mais aclamadas pelo
público, ser unanimidade pela qualidade é um triunfo de poucas obras dentro
dessa arte, uma vez que seus fãs são os mais exigentes possíveis, tal exigência
é amplificada quando transposta para o cinema. Leitores que só conseguiam ver
seus heróis em movimento com animações simples ou em ações da imaginação
enquanto folheavam seus quadrinhos, podem, em uma época de glória da “nerdice”,
conferir isso tudo no cinema. A expectativa é grande, bem como a exigência. A
Marvel se lembra dessa responsabilidade e entrega um filme que nos faz
reconhecer o que lemos e para quem não leu, mergulhar em história diferente das
casuais.
O filme tem o triunfo de dar o destaque
para seu protagonista, sem abandonar os coadjuvantes. Vemos um Capitão América
maduro e firme em suas decisões. Provavelmente um fardo necessário uma vez que
está liderando os Novos Vingadores. Estes inclusive ainda não possuem a
segurança de seu líder, é um time que está aprendendo a lidar um com o outro.
Personagens que se consagraram por seus poderes em “Era de Ultron” (Visão e
Feiticeira Escarlate, por exemplo) aparecem mais frágeis com as incertezas que
trazem consigo. Ela com o peso de onde seu poder pode chegar desde os
acontecimentos de Sokovia, ele com a sua própria presença no mundo e buscando
seu papel no meio dessa humanidade que busca entender ao mesmo tempo em que a
descobre.
Aí está de repente a grande jogada dos
irmãos Russo na direção do filme: Utilizar a cronologia já estabelecida pelo
MCU e pincelar elementos da Guerra Civil dos quadrinhos. O acidente em Stanford
foi substituído pelos grandes ápices dos filmes anteriores e que envolviam os
civis (imagine se o General Ross tivesse assistido o “Homem de Aço”), culminando com
a ação da Feiticeira na cena de abertura do filme. Toda essa construção dos
desastres que envolvem os super humanos vai nos colocando em uma situação de
dúvida que assim como na HQ, nos fazem perguntar que posição tomaríamos,
independente de herói favorito.
Ambos os heróis são motivados por
situações justas, a Marvel teve o cuidado de amenizar o papel de Tony Stark no
filme se comparado às HQs, aqui o personagem também excede limites, mas nem de
longe lembra o Tony que acabou quase sendo visto como vilão na HQ. Decisão
acertada. Primeiro pelo protagonismo que o personagem possui no cinema, segundo
porque permitiu ao filme uma tensão maior ao justificar as decisões que são
tomadas, várias vezes fui pego pensando o que faria no lugar dos personagens,
isso aumenta a carga dramática e insere o espectador de uma maneira que nenhum
3D consegue.
Seria um crime fazer esta crítica sem
citar os personagens novos e suas aparições, por ordem de conta bancária,
primeiro o rei de Wakanda: T’Challa. Entrou no momento certo, foi o personagem
que levou o tom sério para o time do Homem de Ferro, o diplomata que se
preocupa em proteger seu povo e que fundamenta a importância da lei de
registro, uma vez que o poder desmedido representa ameaça. Uniforme simples e
funcional, como bem é a tecnologia de Wakanda, o filme preocupou-se em
diferenciá-lo ainda com um estilo de luta e sotaque, sinalizando que é um
“estrangeiro”, mas faz bem em não explicar muito, visto que seu filme solo vem
mais adiante. O segundo, o amigão da vizinhança: Homem-Aranha. Tornou-se a
estrela do filme logo que anunciaram e cumpriu com tudo que esperávamos,
certamente o Peter Parker precisava encontrar a Marvel para surgir como
merecido. Pela primeira vez temos o Aranha que conhecemos e gostamos: Jovem,
nerd, mal de grana e piadista. Preocupado em ajudar e fazer o bem. A maneira
como foi apresentado, estilo “entrevista de emprego”, foi simples, porém
funcional e para nós, foi como rever um amigo que a muito não víamos.
Tivemos o Barão Zemo, clássico vilão
dos quadrinhos e repaginado aqui de maneira mais jovem, o visual não foi
problema, mas a função do personagem no filme. Talvez este tenha sido o maior
problema, não que o tenha estragado, pelo contrário, mas por não cumprir seu
papel. Isso é sintomático nos filmes da Marvel: a dificuldade de encontrar
vilões que realmente cativem e que estejam a altura da história, talvez somente
Loki em Vingadores tenha conseguido isso totalmente. Zemo acabou sendo um
coadjuvante mediante ao grande conflito e em seu final, ao invés de investirem
em sua vilania, o filme quase o aproxima de uma “redenção”, temos então as
duas, vilania e redenção, fracassadas. Porém isso não tira o importante papel
de Zemo na história e também seu futuro potencial para um vilão melhor se tendo
um desenvolvimento mais cuidadoso.
Capitão América: Guerra Civil inaugura
de maneira espetacular a nova fase da Marvel e mostra-se um filme competente ao
que se propõe. Talvez seja um dos mais ousados ao mexer em alguns status de
personagens consagrados, mas ao mesmo tempo essa ousadia é acompanhada do
conhecimento do estúdio perante seu público, sabendo levá-lo até onde lhes
agrada. Neste caso nos levou até uma guerra onde quem saiu ganhando foi o
público.
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